Por vezes, não nos lembramos de como é bom viver. Talvez porque nos esqueçamos de usufruir a vida em totalidade.
Quase sempre, a ansiedade é nossa companheira. E é ela que nos impede de viver em plenitude.
Quando nos deixamos envolver pela ansiedade, estamos em um lugar fisicamente, mas a mente se encontra em outro ou, então, horas à frente.
É bastante comum nos encontrarmos em uma festa e cogitarmos do cansaço que sentiremos no dia seguinte, do inconveniente de termos que levantar cedo, de retomar a rotina.
Descambamos para queixumes e lamentações. Esquecemos de viver aquele momento de alegria, de encontro com os amigos, de risos, de descontração.
Consequentemente, a festa não nos beneficiará, ao contrário, será sinônimo de cansaço e indisposição.
E que dizer quando reclamamos das crianças em casa? Reclamamos do barulho, da correria. Enfim, elas requerem tanta atenção, tantos quefazeres.
E deixamos de usufruir dessa extraordinária possibilidade de observá-las, de rir com elas, rir do que fazem e como fazem.
Permitimo-nos perder a chance de ter algumas horas de puro prazer, correndo, rindo, rolando na grama, chutando bola. E também abraçando, estreitando forte, beijando.
Já nos demos conta de quão maravilhoso é o colar de dois braços miudinhos nos envolvendo o pescoço? Nenhuma joia, por mais valiosa, supera essa preciosidade.
Porque abraço de criança é tudo de bom: é espontâneo, é forte, é macio.
E, no final do passeio, ou na hora de dormir, como é doce sentir aquele calor do corpo de uma criança em nossos braços, perceber-lhe o ritmo da respiração, sentir o pulsar do seu coração junto ao nosso.
Isso se chama viver. Isso se chama sorver a vida em abundância.
Viver é, também, permitir-se despentear pelo vento, com suas mãos rebeldes e despreocupadas.
É sentir o sol percorrendo-nos o corpo e estendendo cores por toda a natureza, beijando a superfície das águas, fazendo-as brilhar como líquidos cristais.
Viver é sentar-se à mesa com a família, com os amigos e comer devagar, buscando identificar o sabor de cada alimento. E se deixar ficar ali, conversando, falando dos tantos nada que fazem a felicidade de cada dia.
É dar um passeio de mãos dadas, deixando a brisa sussurrar segredos entre ambos. Recados ouvidos de Deus, segredos somente conhecidos por quem ama.
Viver é deter-se para assistir a um pôr do sol, observando as pinceladas divinas que se sucedem, em promessa de um dia esplendoroso, após a noite de veludo e estrelas que se aproxima.
Viver é ter a certeza de que, após os dias de invernia, chuva e frio, suceder-se-ão as horas floridas da primavera risonha.
E que, após os dias de intenso calor, a natureza começará a se despir de folhas e flores, preparando-se para se engalanar de geada, brumas e garoa.
Viver cada minuto, cada emoção, sem ansiedade, como único e inigualável.
Assim, a vida se torna maravilhosa. Cada dia, uma experiência inédita porque, sendo Criação Divina, não existem reprises nas horas, nem nos minutos.
Pensemos nisso e, enquanto ainda nos encontramos no panorama terrestre, bebamos do cálice da vida, gota a gota, deliciando-nos com o seu sabor.
E se horas amargas se apresentarem, recordemos que como as estações, também os quadros de dores e dificuldades se sucedem, substituídos por outros de alegrias, risos e cores.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita v. 26, ed. FEP.
Em 9.3.2020.
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