A estratégia de Guilherme Boulos (PSOL) de apostar na responsabilização do prefeito Ricardo Nunes (MDB) pelo apagão que deixou mais de 2 milhões de endereços sem luz na cidade de São Paulo colou, mas a manutenção da vantagem do candidato à reeleição nas pesquisas mostrou que os ataques foram insuficientes para mudar os rumos do segundo turno. Essa foi a avaliação difundida na campanha de Nunes.
Mudança de rota
Durante a crise, a estratégia imediata de Nunes para responder às críticas do opositor foi associar a concessão da Enel, que é responsável pela distribuição de energia na cidade, ao governo federal — o presidente Lula (PT) é o principal cabo eleitoral do psolista — e responsabilizar a empresa, que chegou a chamar de “ruim”.
Mas desde que as pesquisas de intenção de voto mais recentes mostraram que o incumbente mantém boa vantagem sobre Boulos, sua campanha decidiu baixar o tom em relação à empresa, de acordo com o relato de uma fonte que integra a administração ao site IstoÉ, sob condição de anonimato. A percepção foi de que os ataques do esquerdista desgastaram, mas não vão afetar o desempenho do emedebista nas urnas.
Na prefeitura, a avaliação que predomina é de que a Enel é uma parceira estratégica, pode participar de outros projetos de infraestrutura na cidade e, diante da redução do desgaste — o apagão perdeu espaço na campanha e a fornecedora informou que a distribuição de energia voltou ao patamar de normalidade –, continuar com a malhação arriscaria o futuro dessa relação.
Contexto
A estratégia de Boulos. A campanha teve sucesso em responsabilizar a prefeitura, e não a Enel, pela crise, conforme a percepção dos oponentes. Boulos chamou Nunes de “pai do apagão” e afirmou que o gestor não se esforçou para romper o contrato com a concessionária, que é válido até 2028 e gerido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), órgão federal.
Desgaste antigo. Essa foi a terceira vez que um apagão gera ruídos entre a Enel e a gestão de Nunes. Em novembro de 2023, mais de 1 milhão de pessoas ficaram sem luz na capital — em alguns bairros, a situação durou uma semana. Em março de 2024, um novo episódio deixou a região central por mais de 30 horas sem energia. Nas duas ocasiões, o prefeito e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) responsabilizaram a concessionária.
Culpa dividida. A queda de árvores na cidade é uma das razões para os apagões. Segundo a prefeitura, o manejo arbóreo é dividido entre a própria gestão e a concessionária, em situações nas quais há interferência da vegetação nas redes elétricas. A Enel, por sua vez, defende que a manutenção da arborização – que inclui as podas – é um dever do poder público. LR