Tempos inesquecíveis e os valores de quem cuida de futebol para crianças

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Pois é. Nesta semana, a decisão da prefeitura de não ceder transporte para o setor privado trouxe à tona a discussão sobre as escolinhas de futebol. Fiz uma nota alertando que o poder público deve evitar se desassociar de áreas essenciais, como o esporte, independentemente do setor. No fim das contas, essa decisão atinge diretamente a juventude apaixonada por futebol e por suas equipes.

Fui duramente criticado na minha página do Facebook por um dos técnicos de uma das duas escolinhas de futebol da cidade, mesmo tendo elogiado o trabalho que ele realiza — é claro, de forma privada.

Toda essa discussão me fez voltar ao passado, à época em que eu era criança e jogava futebol na rua de terra da Araribóia ou disputava peladas no campo que ficava em frente à garagem da prefeitura, além do gramado da saudosa Sociedade Esportiva Mariana.

Assim como hoje, naquela época dois homens se destacavam como técnicos de futebol infantil: Sêo Altino e Sêo Paraná. Eles dedicavam temporadas inteiras trabalhando voluntariamente em espaços como o Parque São Jorge, a Mariana e a Associação Atlética Venceslauense.

Não tinham carro, compravam bolas com dinheiro do próprio bolso e, mesmo assim, conseguiam sempre reunir meninos para ensinar futebol em equipe. Faziam o que podiam para formar times. Qualquer criança, vinda de qualquer lugar, com ou sem chuteiras, era bem-vinda e tratada com carinho, respeito e dignidade.

Lembro perfeitamente quando o Sêo Altino surgia na rua Araribóia, caminhando apressado em direção ao campo da Mariana. As crianças corriam atrás dele, ansiosas por mais um treino. Ele guardava as bolas na casa do Sêo Cassiano, que morava com a família no campo e cuidava do local.

Sêo Paraná era outro exemplo. Caminhava a pé, sempre carregando um saco cheio de bolas — novas ou não — e recebia o mesmo carinho dos garotos que o seguiam até o campo. Não havia dinheiro envolvido nesse relacionamento. Era tudo movido pelo coração: agregar crianças, ensiná-las pelo esporte, dar-lhes carinho e um lazer sadio.

Naquele tempo, as ruas eram de terra. Os campos eram simples espaços abertos, onde se colocavam duas traves e pronto. Esses homens surgiam no meio da tarde, debaixo de um sol escaldante, caminhando sobre a areia quente, sem que nada os impedisse de ir ao encontro dos garotos. Aos finais de semana, aconteciam os jogos entre os times da cidade, às vezes entre nós mesmos, outras contra equipes visitantes.

Quando viajávamos para cidades vizinhas, o transporte era o trem. Naquela época, o poder público não tinha utilitários de transporte para terceiros.

Muitos bons jogadores de Presidente Venceslau foram frutos do trabalho incansável desses dois homens, que viam o ser humano em primeiro lugar. Não eram ricos, nunca foram candidatos a nada e nem seguiam líderes políticos que primeiro protegem a si e só depois olham para os mais necessitados. Apenas souberam valorizar os espaços para o futebol que existiam na cidade.

Hoje, infelizmente, o campo da Mariana não existe mais. Nem o da garagem da prefeitura. Nem sequer há ruas de terra. E, seguindo essa mesma lógica, também são raros os homens que, desprovidos de qualquer interesse, querem trilhar esse caminho movidos apenas pelo amor ao próximo e respeito aos mais necessitados. Toninho Moré

 

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