Há algum tempo escrevi para o Blog do Toninho uma crônica intitulada “Memórias e desabafo de um canhoto”, sendo que o texto, para a minha alegria, teve boa aceitação e foi bastante elogiado. Infelizmente não o publiquei no meu blog, nem o tenho nos arquivos do meu computador, então vou procurar reeditá-lo aqui da forma mais fidedigna possível, já que também não o encontrei mais na internet. A reedição da crônica ocorre porque ontem foi o Dia Internacional do canhoto, minoria da qual faço parte. Com vocês, amigos leitores… “Memórias e desabafo de um canhoto!” (Remake)
Lembro-me perfeitamente de quando começou o “fenômeno”: Foi durante o meu processo de alfabetização em domicílio, pois minha mãe queria que eu entrasse para a escola já alfabetizado, e teve sucesso em sua meta. Observação: Dona Irene não tinha diploma de pedagogia, muito pelo contrário, estudou até a metade do ensino fundamental. Foi nestas ocasiões, que, quando a minha mão esquerda começou a escrever as primeiras letras e fazer os primeiros desenhos, eu via muitos dizerem: “Nossa, ele é canhoto!”
Ali eu já passei a intuir que fazia parte de uma minoria, e que aquilo causava certa surpresa nas outras pessoas, sendo que alguns comentários transmitiam até uma espécie de repulsa, como se eu fosse um alienígena. Minha avó materna, certa vez, chegou a dizer: “Quem escreve com esta mão é contrário a Deus!” . Hoje penso que ela não acreditava nisso, que aquela era uma forma de repreensão velada com o objetivo de que eu me enquadrasse nos padrões convencionais das habilidades manuais. Não preciso dizer aquela fala que não surtiu efeito.
Ser canhoto não é tão fácil, pois o mundo de prevalência destra foi moldado para a maioria. Convido qualquer leitor a procurar uma daquelas carteiras com um único braço de apoio, e verão que vai ser difícil encontrar uma que seja adequada à nossa minoria canhoteira. Em dada ocasião, no início da vida universitária, eu e outro canhoto discutimos por pleitear a única carteira na sala que ia de encontro às nossas necessidades. Pois bem: ao invés de exigirmos mais carteiras com estas características, discutimos calorosamente por aquela carteira exclusiva. Foi quando reparei que, além de sermos minoria, éramos desunidos!
Dizem que os canhotos são extremamente inteligentes e geniais. Barack Obama, Albert Einstein e Ayrton Senna fazem parte da lista dos que escrevem com a mão esquerda e me fazem encher de orgulho. Mas aí eu vejo que na mesma lista constam nomes como Adolf Hitler, Fidel Castro e Hugo Chavez, e percebo que não é a preferência manual de um indivíduo que determina a sua história.
Na política, sempre tive convicções esquerdistas, mas recentemente, pude notar que a corrupção e o clientelismo no Brasil não escolhe este ou outro lado: são ambidestros! Já os cientistas dizem que os canhotos curiosamente trabalham com o lado direito do cérebro, ao contrário dos destros. O problema é que, no meu caso, há uma espécie de característica ainda mais rara: eu sempre escrevi com a mão esquerda, mas jogava meu futebol medíocre com o pé direito! E aí, senhores cientistas, como me explicam isso??
Mas foi quando comecei a trabalhar numa agência de vendas de passagens rodoviárias que meu “canhotismo” virou justificativa para a minha caligrafia horrenda. Ninguém, em sã consciência, cogitou que aquelas passagens rodoviárias eram confeccionadas manualmente, e geralmente, precisavam ser escritas com pressa. Tá, os caras que trabalhavam do meu lado tinham letras bem mais bonitas, mas acho que a minha letra era feia porque sempre foi, não por eu ser canhoto!
Portanto, eu digo que se minha caligrafia é feia, eu tento, ao máximo, “escrever bonito”. Se eu consigo alcançar este objetivo, não sei. Mas sei que escrevo com o coração, que não por acaso, fica do lado esquerdo do peito… Pronto, desabafei!
Obs: Esta foi uma homenagem àqueles que, como eu, escrevem com a mão esquerda. Parabéns a nós por ontem, dia 13/08, o “Dia Internacional do canhoto”
* O Eldoradense