De acordo com um novo estudo feito por cientistas da Universidade da Califórnia e publicado pela revista Nature, nos Estados Unidos, a prática de uma modalidade de ioga chamada “kundalini”, que combina exercícios de respiração, posturas corporais, meditação e mantras, pode trazer benefícios para a memória de idosos.
Para chegar a essa conclusão, os autores compararam os efeitos desse estilo de ioga com técnicas de treinamento de memória em 79 mulheres na fase pós-menopausa. Todas eram portadoras de condições cardiovasculares, como infarto, diabetes, hipertensão (conhecidos fatores de risco para a demência), e haviam reportado problemas de memória e declínio cognitivo.
O estudo se precedeu da seguinte forma: as voluntárias foram divididas em dois grupos, sendo que 40 foram encaminhadas para a chamada “kundalini ioga”. Elas tiveram uma aula semanal com um instrutor e orientações gravadas para praticar todos os dias sozinhas. As demais tiveram um treinamento de estímulo da memória que consistia em tarefas diárias com técnicas de associação verbal, estratégias organizacionais, como categorizar itens de uma lista, e dicas de associação visual para lembrar faces e nomes, entre outras.
Antes de dar início às fases do estudo, as pacientes foram submetidas a testes de cognição e memória. Depois, foram avaliadas ao final de 12 semanas e após seis meses. Os pesquisadores também colheram amostras de sangue para dosar as substâncias inflamatórias associadas ao declínio cognitivo.
O resultado? Todas apresentaram ganhos na memória e nenhuma teve declínio cognitivo. No entanto, o grupo que praticou a ioga também teve melhoras nas taxas de marcadores inflamatórios e, após seis meses do início dos exercícios, reportou menos queixas nos lapsos de memória do que as demais mulheres.
Segundo a coordenadora da Equipe de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein, Maria Ester Azevedo Massola, a prática de ioga exerce efeitos positivos na memória por diversos mecanismos neurobiológicos e fisiológicos.
“Um dos motivos é a redução do estresse. Ao promover o relaxamento, a prática reduz a produção de substâncias inflamatórias desencadeadas pelo estresse”, explica a especialista, que ressalta que a inflamação crônica está associada a condições neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Ainda de acordo com a coordenadora, a prática também promove o estímulo cognitivo, já que as posturas testam a coordenação, o equilíbrio e a concentração.
“Esses desafios podem estimular o cérebro e promover a plasticidade cerebral, contribuindo para a melhoria da memória e outras funções cognitivas”, diz Massola.
A especialista lembra, ainda, que esses benefícios também podem ser obtidos com outros tipos de ioga, como o ‘hatha ioga’ que é a mais comum no Brasil.
“Esses achados sugerem que a ioga pode ser uma intervenção valiosa, não invasiva e não medicamentosa, eficiente em termos de custo para promover a saúde cerebral e cognitiva em idosos. A prática regular pode oferecer benefícios físicos e mentais, ajudando a manter a função cognitiva e a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”, diz a especialista do Einstein. IstoÉ