O DIA QUE PERCEBI QUE ENVELHECI
A primeira coisa que identifiquei foram os passos mais lentos. Depois o espelho denunciava um traço diferente aqui e outro ali. Eram rugas! O olhar mais cansado. Porém, muito mais apurado.
A vontade de ficar mais em casa.
A certeza de não precisar justificar mais nada pra ninguém. O aconchego da própria companhia. O sossego dos sentimentos. A velhice é o outono de nossa vidas. Folhas secas pelo chão expostas no que são. Uma passagem definitiva para o encontro com nós mesmos. Onde a verdade é tão bem vinda.
Tem sido leve o entendimento.
Tem sido necessário o afastamento de pessoas que suportei ao longo da vida. Sinceramente, nem sei porque. Tempo de nitidez absoluta!
Os gestos mudam!
O tratamento das pessoas com a gente muda. Nos tornamos jovens senhoras.
A cabeça lá nos vinte anos.
O corpo bem consciente do tempo.
Lembro de chamar atenção da minha mãe por causa de algumas manias que ela tinha. E hoje me pego repetindo a mesma história. O duro de envelhecer é que essa ação do tempo que não cessa, leva embora muitas pessoas. Leva tanta coisa!
Gosto da tranquilidade que sinto diante de tudo. Da paz que hoje tenho.
Sem paciência para a hipocrisia. Os pesos foram ficando pelo caminho. Os inconvenientes também.
Ficam, os que depois de tudo, enxergam quem você se tornou. E se acomodam na sua história. A vida realmente é com aqueles que ficam. Ainda faço planos, tenho milhares de sonhos e objetivos. Envelhecer é mesmo esse desencontro. Na juventude saúde de sobra e tantas incertezas. Na maturidade, a segurança, a firmeza das convicções. O tempo de poucas surpresas. Meu olhar é das ausências que nunca serão preenchidas. Também tenho guardada a palavra que nunca foi dita. A loucura que nunca foi feita. Nunca trai ninguém! Não conseguiria! Cuidei de quem precisava. E até de quem não precisava A vida às vezes me pareceu um fardo. Desnecessário sofrimento de tantas horas. Descobertas tardias, muitas!
Mas o tempo não volta para consertarmos os erros ou para escolhermos um outro caminho. Compreendo! A compreensão veio junto com o entardecer da vida. A velhice é esse carregar de lembranças. É a quietude da alma! É o despertar dos sentimentos mais raros. Perdoa-se! Porque ao fazer as contas percebemos que estamos na última etapa de nossas vidas. E não tem outro jeito de dizer isso. Então, celebro cada segundo. Não me assusta o correr do tempo. Me encanta!
PATRÍCIA LOPES DE OLIVEIRA
Escreve periodicamente no Blog do Toninho
Formada em Letras e Direito
Pesquisadora em projetos humanitários e culturais
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