Produtores de café do Brasil, da Colômbia e de dezenas de outros países vão se reunir nesta semana em Campinas, no interior de São Paulo, para discutir como ajudar agricultores que estão enfrentando os preços internacionais mais baixos em mais de uma década.
A inspiração para esses esforços vem da Costa do Marfim e de Gana, os maiores produtores mundiais de cacau, que estão tentando convencer compradores a pagar um preço mínimo de US$ 2.600 a tonelada pelo produto. “Se eles podem chegar a um acordo, por que nós não podemos?”, disse a diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais, Vanusia Nogueira, que vai participar do Fórum Mundial de Produtores de Café, que começa nesta quarta-feira, 10.
Produtores de café reconhecem que não será fácil. Gana e Costa do Marfim conseguiram levar compradores à mesa de negociação porque são responsáveis por mais de 60% da produção mundial de cacau. O mundo do café é bastante diferente. No caso do arábica, os três maiores produtores da variedade teriam de se juntar para alcançar uma parcela parecida. Além disso, o número de países produtores de café é muito maior que o de produtores de cacau.
Uma falta de disciplina entre os produtores de arábica arruinaria os esforços, disse o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro. “Sabemos que os compradores do setor de café vão buscar o melhor preço. Ninguém vai conseguir segurar o café” para tentar impulsionar as cotações, afirmou.
Em maio, os preços futuros de arábica atingiram 87,60 cents por libra-peso na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), o menor nível em 14 anos.
Produtores em vários países dizem que estão recebendo menos do que o custo de produção pelo café. Como resultado, muitos agricultores estão optando por outras culturas, migrando para áreas urbanas ou, no caso da América Central, caminhando em direção à fronteira do México com os Estados Unidos.
Os preços baixos também estão deixando produtores com menos recursos para cuidar dos cafezais, para a educação de seus filhos e até para alimentação, disse Juan Esteban Orduz, presidente da Colombian Coffee Federation, subsidiária norte-americana da Federação de Produtores de Café da Colômbia, que também faz parte dos esforços para elevar os preços.
No ano passado, grupos de produtores representando mais de 30 países enviaram uma carta a mais de 20 grandes compradores de café, como Nestlé e Starbucks, para tentar convencê-los a pagar mais pelo produto. “Eles disseram, ‘lamentamos saber de suas dificuldades’, e foi isso”, disse Vanusia Nogueira.
Ajudar agricultores a aumentar sua renda está “além do alcance das ações de qualquer companhia”, disse a Nestlé em e-mail, acrescentando que a empresa está buscando medidas coletivas para ajudar produtores diante dos baixos preços de arábica.
A Starbucks disse que já investiu mais de US$ 100 milhões para “aumentar a prosperidade e a resistência” de produtores de café em todo o mundo.
Outras sugestões incluem uma possível intervenção da ICE quando os preços caírem muito, ou mudanças nas regras para os futuros de arábica, para filtrar especuladores que, segundo produtores, distorcem os preços.
Alguns dos grupos que estão trabalhando para elevar os preços disseram que já conversaram sobre o assunto com a ICE, e que a Bolsa pareceu receptiva. Um porta-voz da ICE não confirmou as conversas, e disse apenas que a Bolsa conversa constantemente com participantes para garantir que o mercado futuro reflita as realidades comerciais dos produtos subjacentes.
Estadão Conteúdo
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