Diante da decisão da OMS de decretar emergência de saúde pública global por causa da mpox, o Ministério da Saúde instala, nesta quinta-feira (15), o Centro de Operações de Emergência em Saúde para coordenar ações de resposta à doença no Brasil
O vírus da mpox (antes denominada “varíola dos macacos”) foi classificado como emergência global de saúde pública pela segunda vez em dois anos.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças na África (Africa CDC, na sigla em inglês) registram em especial a disseminação do “clado 1b”, uma cepa mais mortal e transmissível entre humanos. Classificada como “de alto risco”, suas taxas de mortalidade chegariam a 10%: do começo de 2022 a 28 de julho de 2024, houve 37.583 casos e 1.451 mortes em 15 nações africanas.
Os primeiros casos envolvendo a nova variante foram documentados em setembro de 2023 na República Democrática do Congo (RDC), na África Central. Desde então, as infecções atingiram o Camarões, República Centro-Africana e Ruanda. Casos do começo de agosto de 2024 em Uganda e no Quênia também envolveram o clado 1b.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, postou na rede social X (ex-Twitter) que “devido à disseminação de uma cepa mais mortal do mpox para diversos países africanos”, sua organização, os Africa CDC e os governos locais estavam “intensificando a reação para interromper a transmissão”.
Qual é o perigo para o Brasil?
O Brasil apresenta estabilidade de casos da doença desde o início de 2023. A despeito disso, o centro criado pelo Ministério da Saúde informou que vai reforçar a vigilância e o planejamento relacionado à mpox e coordenar as ações de resposta para que o Brasil não seja pego de surpresa em caso de uma epidemia mundial
A ministra Nisia Trindade adiantou que entra as medidas que serão adotadas estão a aquisição de testes de diagnóstico, alerta para viajantes e atualização do plano de contingências. Ela também falou sobre vacinas e disse que, por enquanto, não há previsão de imunização em massa.
Na última terça-feira foi realizado um seminário online, com a participação de especialistas onde foram discutidos cuidados à doença, além das principais estratégias de vacinação.
O diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente transmissíveis, Draurio Barreira, explicou em seminário realizado na terça-feira, 13, que a situação na África preocupa o Brasil, mas que os riscos estão tendo atenção especial.
“Nessa época de globalização em que vivemos, ter um caso na África, na Ásia, ou em qualquer lugar da Oceania, significa um risco de que isso se torne rapidamente uma epidemia global. Falando um pouco sobre o Brasil, temos uma atenção muito especial em relação a mpox porque, no início da epidemia em 2022, os dois países mais acometidos, não apenas por uma questão de valores absolutos, mas também pela incidência, foram os Estados Unidos e o Brasil”.
No pico de emergência global em 2022, o Brasil teve quase 12 mil casos confirmados. Este ano, foram notificados 709 casos confirmados ou prováveis. Da lá pra cá, foram registrados 16 mortes, sendo a mais recente em abril de 2023
O que é o vírus mpox?
O vírus mpox se divide em dois grupos taxonômicos: clado 1 e clado 2. Este último provém da África Ocidental: responsável pelo surto global iniciado em 2022, ele causa infecções menos severas, com uma taxa de sobrevivência de 99,9%.
Mais virulento, o clado 1 é endêmico da Bacia do Congo, na África Central, e apresenta uma taxa de mortalidade de cerca de 3%. Entre crianças, contudo, a do clado 1b chega a até 10%. Ele provoca erupções cutâneas por todo o corpo – ao contrário de outras cepas, cujas lesões se restringem à boca, rosto e região genital.
A transmissão se dá por contato próximo, como a inspiração de gotículas de saliva (aerossóis) ao falar ou respirar nas vizinhanças de alguém infectado. Apesar de a mpox não ser descrita como doença sexualmente transmissível, o sexo é uma das principais vias de disseminação.
A República Democrática do Congo foi atingida com dureza especial pelo clado 1b da mpox, acusando mais de 13 mil casos. A grande maioria (85%) das mortes ocorreu entre menores de 15 anos de idade, os quais totalizaram 68% dos casos. O sexo masculino é o mais visado pelo vírus (73%).
África é maior atingida
No geral, a mortalidade tem sido muito mais alta no continente africano do que no resto do mundo. Em 29 de julho, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), por exemplo, definia como “muito baixos” os riscos relacionados à mpox na Europa, apesar de alguns casos registrados, assim como na América do Norte.
“Embora haja tanto uma vacina segura e eficaz, quanto tratamento antiviral contra a mpox, estes não estão prontamente acessíveis à maioria [dos países-membros da União Africana]. Por isso classificamos o risco como ‘alto’”, diz o relatório de 30 de julho dos Africa CDC.
Entre janeiro e o fim de julho de 2024, registraram-se em dez países africanos 2.745 casos confirmados e 11.505 de suspeita, com 456 óbitos – um incremento de, respectivamente, 160% da incidência e de 19% das mortes, em relação ao mesmo período do ano anterior. O relatório confirma a RDC como principal foco de mpox em 2024, concentrando 96,3% das infecções e 97% das mortes. * Com informações da Agência Brasil