Mais de 60% dos casos de gonorreia são resistentes ao antibiótico mais utilizado, diz OMS

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Bactéria super-resistente. Foto: Reprodução/Unsplash Reprodução/Unsplash

A nova edição do relatório do Sistema Global de Vigilância de Uso e Resistência Antimicrobiana (GLASS), da Organização Mundial da Saúde (OMS), traz um alerta sobre o crescimento de bactérias resistentes aos antibióticos. O cenário preocupa uma vez que, em casos que não respondem aos medicamentos, a infecção bacteriana pode ser até mesmo letal. Segundo o consórcio internacional Antimicrobial Resistance Collaborators, hoje o mundo tem cerca de 5 milhões de mortes ao ano pelo avanço do problema.

Um dos exemplos que o novo documento destaca é o caso da gonorreia, uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Alertas anteriores da OMS já haviam destacado a doença e alertado para que médicos tenham cuidado na hora de tratá-la. Isso porque o uso errado ou excessivo dos antibióticos é justamente o que contribui para que os microrganismos se tornem resistentes a eles.

Agora, a organização afirma que mais de 60% dos casos de gonorreia são causados por uma versão da bactéria resistente a um dos remédios mais utilizados no tratamento, a ciprofloxacina, o que dificulta o combate à infecção e aumenta o risco de desfechos graves.

O novo relatório da OMS, que reúne dados reportados por 87 países até 2020, destaca também níveis de resistência acima de 50% para bactérias que causam grande parte das infecções da corrente sanguínea em ambientes hospitalares, a Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp.

Esses casos requerem antibióticos de último recurso, como os carbapenêmicos. No entanto, com o aumento na demanda devido à resistência aos remédios tradicionais, essa classe de medicamentos também corre mais risco de eventualmente se tornar ineficaz. 8% das infecções da corrente sanguínea causadas por Klebsiella pneumoniae, por exemplo, já são resistentes aos carbapenêmicos, sem outra perspectiva de tratamento.

Outro dado alarmante que aparece no relatório é que mais de 20% dos casos de Escherichia coli, causa mais comum da infecção urinária, foram resistentes tanto aos antibióticos de primeira linha, a ampicilina e o cotrimoxazol, como os de segunda linha, as fluoroquinolonas.

“A resistência antimicrobiana prejudica a medicina moderna e coloca milhões de vidas em risco. Para entender verdadeiramente a extensão da ameaça global e montar uma resposta de saúde pública eficaz à RAM (resistência antimicrobiana), devemos ampliar os testes de microbiologia e fornecer dados com garantia de qualidade em todos os países, não apenas nos mais ricos”, diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em comunicado.

A organização chama atenção para a tendência de crescimento do problema. Os casos de resistência da bactéria que causa a gonorreia e das duas mais comuns em infecções da corrente sanguínea aumentaram 15% em quatro anos.

Um dos receios dos especialistas é que o uso desenfreado e fora do recomendado de antibióticos durante a pandemia da Covid-19 pode ter agravado ainda mais o problema. No entanto, a OMS diz que são necessários mais estudos para identificar os motivos exatos por trás desse aumento e entender até que ponto o novo coronavírus teve influência.

Globo
11:00:20

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