Achamos valiosa e importante está entrevista que está na coluna do Sinomar Calmona no jornal O Imparcial nesta quinta-feira. Trata-se de um entrevista com o urologista Matheus Sperini, falando sobre o tratamento do câncer de próstata.
Formado pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), com dois anos de residência em Cirurgia Geral na Unesp (Universidade Estadual Paulista), e três anos de especialização em Urologia também na Unesp, o médico Matheus Sperini, de Presidente Prudente, completou sua formação com o fellow de um ano em uro-oncologia e cirurgia robótica no Hospital do Câncer de Barretos.
Durante o seu fellow em uro-oncologia e cirurgia robótica em Barretos, quais habilidades técnicas e práticas o senhor pôde aprimorar?
Foi um desenvolvimento em cirurgia minimamente invasiva, proporcionando aos pacientes uma recuperação mais rápida e um tratamento correto do câncer. O foco foi em cirurgia robótica e na parte de uro-oncologia, num dos hospitais oncológicos mais conceituados que temos no país.
Em uro-oncologia, quais são os principais tipos de câncer tratados na sua prática e quais os tratamentos mais inovadores atualmente disponíveis?
Basicamente, a uro-oncologia cuida da parte de oncologia no órgão reprodutor masculino e também do aparelho urinário tanto no homem como na mulher.
“O paciente retorna muito mais rápido às suas atividades habituais pela cirurgia robótica”
Como essa técnica beneficia os pacientes em comparação com os procedimentos tradicionais?
Importante deixar claro para os pacientes é que tanto a técnica convencional, a cirurgia aberta, a cirurgia por vídeo e a cirurgia robótica, tratam o câncer. A cura do câncer, a gente consegue alcançar com as três técnicas. O que a robótica traz é a diminuição das sequelas do pós-operatório. Principalmente a incontinência urinária, e a impotência sexual, conseguindo minimizar esses danos. Além de promover uma recuperação rápida dos pacientes.
A saúde masculina ainda enfrenta alguns tabus. O que ainda impede muitos homens de buscar acompanhamento urológico regularmente?
Com a nova geração, isso começa mudar. Antigamente existia um preconceito muito grande. Hoje isso vem diminuindo muito. No rastreio do câncer de próstata, a gente precisa fazer o toque uma vez por ano e alguns pacientes ainda têm uma restrição com isso. Mas é uma coisa bem tranquila, um exame físico que leva dois, três minutos. Mas o tabu já vem sendo quebrado e a geração mais nova tem mudado nesse aspecto.
Como o senhor enxerga o futuro da urologia, especialmente em relação à evolução da cirurgia robótica?
A cirurgia robótica mudou o paradigma do tratamento do câncer de próstata. Antigamente a gente tratava o câncer, mas o paciente ficava com muitas sequelas, como incontinência ou impotência sexual. A cirurgia robótica mudou esse paradigma. E essa evolução foi muito rápida. Já estamos na quarta geração do robô.
“Incentivar o rastreio é muito importante porque o câncer de próstata é um câncer que não dá sintoma, é silencioso”
Estamos no Novembro Azul. Como a campanha ajuda na conscientização do câncer de próstata?
Ė uma campanha muito importante. Nessa época percebemos que a procura dos pacientes por consultas até triplica. Incentivar o rastreio é muito importante porque o câncer de próstata é um câncer que não dá sintoma, é silencioso. Diferente de alguns outros cânceres em que o paciente tem algum sintoma, o de próstata, às vezes durante anos, nas fases iniciais, não dá sintoma. Então por isso que o Novembro Azul ressalta tanto a importância do rastreio, pelos exames de toque e PSA.
Por que existe ainda tanto estigma ou medo em torno do exame de próstata? E como isso afeta o diagnóstico precoce?
Uma parcela masculina ainda tem a mística de perder a masculinidade em relação ao exame de toque. E quando a pessoa faz a primeira vez, vê que é um simples exame, que é algo bem tranquilo que pode mudar a vida do paciente.
Com que idade os homens devem começar a realizar exames preventivos e qual a frequência recomendada?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, se a pessoa tem algum parente de primeiro grau que teve câncer de próstata, ou ele tem descendência negra, deve começar aos 45 anos. E o resto da população que não é negra, nem tem um parente de primeiro grau que teve câncer de próstata, começa aos 50 anos. E a frequência é uma vez por ano.
Quais são as opções de tratamento disponíveis para o câncer de próstata atualmente? E como são escolhidas de acordo com cada caso?
Olha, normalmente no câncer localizado, aquele em que fazemos o diagnóstico em fases iniciais, temos basicamente dois tipos de tratamento. Um que eu já falei, que é a cirurgia, e o outro que é a radioterapia. A escolha do tratamento é baseada no perfil de cada paciente. Com a cirurgia robótica, o paciente tem ficado em média um dia internado, então nós temos aberto as fronteiras para aqueles pacientes mais idosos que antes não faziam a cirurgia.
Nenhum hospital de Presidente Prudente conta com o equipamento da cirurgia robótica. Como o senhor tem feito para operar seus pacientes?
Nossa equipe tem convênio com dois hospitais bem próximos de Prudente, o Hospital da Unimed de Bauru e o Hospital de Base de Rio Preto. Levamos os pacientes para esses hospitais. Eu faço as cirurgias. Os pacientes ficam no máximo um dia internados lá e voltam com segurança. Foi a melhor logística que conseguimos oferecer aos nossos pacientes.
“Uma parcela masculina ainda tem a mística de perder a masculinidade em relação ao exame de toque”
Uma vez tratado o câncer de próstata, quais os cuidados que o paciente deve manter ao longo prazo?
Basicamente, a gente faz o acompanhamento do câncer de próstata com o PSA. Além disso acompanhamos, a perda involuntária de urina, e também a potência sexual.
Como familiares e amigos podem apoiar um homem diagnosticado com câncer de próstata durante o tratamento?
Primeira coisa, que eu sempre falo pros meus pacientes , é tranquilizá-los. Por quê? O câncer de próstata, principalmente em fases iniciais, demora pra progredir. Não é igual um câncer de pulmão, ou intestino, que é um câncer de progressão rápida, que em alguns casos temos que tratar de forma urgente. Se for diagnosticado em fase inicial, dá tempo de programar com calma a cirurgia. Ele é um tumor que demora dar metástase. Portanto é importante pra família ser tranquilizada pelo médico. É por isso que nos ressaltamos tanto o diagnóstico precoce. Porque se ele for feito de fase inicial, a chance de cura é muito alta.
O que o senhor diria aos homens que têm medo ou hesitam em realizar os exames preventivos?
Os tempos mudaram. A geração nova trouxe pra nós quebras de paradigmas, e esse é um. Preconceito em um exame físico, isso eu acho que não cabe mais na nossa sociedade. A prevenção salva vidas. Coluna de Sinomar Calmona/ O Imparcial