O psiquiatra recebeu em seu consultório um paciente com depressão profunda.
Segundo a família, ele estava nesse estado há mais de cinco anos e vinha em busca de um remédio que o curasse de imediato.
O médico olhou-o nos olhos e falou com firmeza: Tenho duas notícias para lhe dar. Uma delas é que ainda não existe um remédio para a sua doença.
O paciente contorceu-se na cadeira, e perguntou um tanto irritado: E a outra notícia?
A outra notícia é que a sua cura depende da sua vontade.
Como assim, doutor? Não tenho vontade de trabalhar, nem de comer, nem de falar com pessoas. A vida não tem mais sentido para mim.
O psiquiatra tornou com voz muito firme: Você está cheio de vontade.
O paciente deu um murro sobre a mesa e retrucou nervoso: O senhor está brincando comigo? Já lhe disse que não tenho vontade.
Sem se alterar, o médico afirmou: O senhor tem muita vontade. Tem vontade de não trabalhar, de não comer, de dormir, de não falar com ninguém, e de se isolar do mundo.
Mas a vida não tem sentido para mim. – Tornou a dizer o paciente.
Conhecedor das causas que levam a pessoa a esse estado de ânimo, continuou o médico: Você está com raiva do mundo. Pense naqueles que o infelicitaram e não consegue perdoar.
O homem se levantou e gritou: Nunca vou perdoá-los! Meu patrão me despediu, acabou com a minha vida, meus irmãos me roubaram a herança.
E desfilou uma lista de pessoas que odiava com toda a força de seu ser.
Então, o psiquiatra voltou a dizer: Somente quando você perdoar conseguirá se livrar desse ácido que o corrói e o está matando, dia após dia.
E o homem falou entre dentes: Nunca vou perdoá-los.
O médico aproveitou a oportunidade para reafirmar que ele estava cheio de vontade, mas dirigida para a própria infelicidade.
* * *
Meditemos sobre a direção que estamos dando à nossa vontade.
Se dizemos que não sentimos vontade de viver, podemos afirmar que, na verdade, estamos com vontade de não viver.
Estamos com vontade de fugir do mundo, com vontade de dormir, de ficar num quarto fechado, com vontade de morrer.
Mas a vontade está ativa. Somente está sendo dirigida para onde nossa razão desejar.
Lembremos de que a vontade é uma força neutra que existe em nós, e que é direcionada automaticamente para o objeto de nossa escolha.
Se escolhemos não perdoar e manter o desejo de vingança, podemos, mediante nova escolha, redirecionar a força da nossa vontade para a indulgência, para o perdão.
O que geralmente acontece é que optamos por não perdoar pensando, dessa forma, estarmos punindo quem nos ofendeu.
Outras vezes, não perdoamos querendo chamar a atenção para nosso papel de vítima. Essa autopiedade extremamente perigosa, pode nos levar a situações de maior infelicidade.
Por todas essas razões, vale a pena direcionar a nossa vontade para o bem.
E, com o desejo sincero de construir a nossa felicidade, sem desejar tornar infelizes aqueles que nos infelicitam.
Pensemos nisso, mas pensemos agora.
Redação do Momento Espírita, com base
em palestra do Dr. José Roberto Martinez,
no Teatro da FEP, em 3.4.2005.
Em 30.1.2020.
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