Os habitantes de Hasanabad vivem sob uma ameaça constante: a da geleira paquistanesa Shisper, que gera um rio de gelo negro que avança até quatro metros por dia.
As mudanças climáticas estão fazendo a maioria das geleiras do mundo recuar, mas uma anomalia meteorológica faz desta uma das poucas da cordilheira Karakoram a crescer.
Centenas de toneladas de gelo e rocha avançam no vale a uma velocidade pelo menos dez vezes superior à normal.
“A vida das pessoas, as propriedades e os animais estão em perigo”, adverte um morador, Basir Ali, em alusão ao risco de cheias repentinas, da queda do gelo e das rochas e da escassez de água potável.
“Quando um lago da geleira transborda, libera um grande volume de gelo, água e dejetos, mas também barro, que tem um efeito devastador, ou seja, destrói tudo em seu caminho”, explica Ignacio Artaza, membro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Mas o avanço da geleira Shisper tem repercussões para além do vale: mais da metade do fluxo do grande rio Indo depende do derretimento sazonal. As mudanças no gelo do Paquistão afetam o rio diretamente.
Isso tem consequências para a agricultura, bem como para suas relações com a vizinha, Índia. Segundo o Instituto de Recursos Mundiais, vinculado à ONU, essas duas nações nucleares, que dependem do Indo e seus afluentes, estão entre os países com maior risco de escassez de água.
O acesso a esse recurso é regulado por um tratado de 1960. Mas Islamabad teme que Nova Délhi restrinja o fluxo, como já ameaçou várias vezes.
AFP
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