O Dr. Fabiano Horimoto, psiquiatra em Dourados/MS é filho de Caio Horimoto. Enviou texto ao nosso Blog contando a história de seu pai.
O assunto surgiu nas redes sociais, após o início da demolição do prédio que abrgou o consultório odontológico do Dr. Caio na avenida Dom Pedro II.
Vejam o que Fabiano Horimoto escreve:
* O QUE É A MODERNIDADE.
A modernidade é um conceito algo vago, compreendendo futuro e avanços. Mas toda sociedade, para avançar rumo ao futuro, precisa estar alicerçada em valores e história. E hoje parte da história de Presidente Venceslau se parte, deixando para trás um misto de tristeza, reminiscências e nostalgia.
Quando seu Reizo Horimoto chegou do Japão em 1926, o governo brasileiro, ciente do valor daquele japonês imigrante, autorizou que prestasse seus serviços no nosso território como odontólogo, sua formação no país oriental destroçado pela guerra, porém com uma obrigação rígida: só poderia exercer a profissão em uma única cidade escolhida, fixando-se e nela permanecendo como condição. A escolhida foi nossa Presidente Venceslau, que se abria para o futuro através das linhas férreas da Sorocabana, rasgando esse rincão ainda inóspito.
O Dr. Reizo, agora dentista venceslauense, aqui se fixou desde o início nos altos da Avenida Dom Pedro II, inicialmente em um consultório de madeira, além de prestar serviço em toda zona rural com um gabinete móvel. Casou-se com Rosa Vakaio e teve 4 filhos: Caio, Irene, Maria da Penha e Nelson. Formou os quatro em faculdades públicas de São Paulo, algo difícil naqueles tempos, mas sabia o valor da educação.
Caio Horimoto formou em 1957 na USP como dentista e voltou para sua querida cidade natal, exercendo initerruptamente seu ofício até o ano de 2007, sempre no mesmo lugar, agora um consultório de alvenaria, na frente do hotel Brasília, esquina com o Posto Texaco, era assim que eu descrevia a localização.
Que saudades dessa época! Todas as tardes passava lá, pegava as chaves da caixa postal do Correio, ia buscar correspondência, passava no bar do seu Mamoru, na frente do cinema local, comprava umas guloseimas e voltava satisfeito. Durante muito tempo meu pai trabalhou junto do oditian Reizo, depois com a velhice meu avô se aposentou e morou na casa ao lado, na frente do colégio Álvaro Coelho. Mas o futuro chega, as pessoas vão embora, novos moradores se fixam na cidade, a roda do tempo é inflexível.
Nesta semana, vendo a fotografia do prédio sendo demolido uma tristeza inundou meus olhos, falei com minha mãe, que também lamentou essa cena. Porque não manter essa fachada? Porque o futuro às vezes se impõe com novas construções, esquecendo-se que a memória e as lembranças são elementos perenes que formam a identidade de uma comunidade.
Presidente Venceslau se tornou próspera e agradável devido aos milhares de moradores que ontem e hoje formaram seu amálgama. Construções podem ser levantadas e derrubadas, estilos arquitetônicos se sucedem, mas a história dos homens que construíram esse local nunca perecerá…
Fabiano Horimoto
médico-psiquiatra e escritor
*Matéria de referência
Demolição de um prédio tradicional, que marcou a história de um grande profissional
17:30:35
