Manifestações públicas de insatisfação com o reajuste anual dos planos têm sido sazonais. Vão e passam. O que fica e piora é a dificuldade crescente de arcar com as despesas. O modelo dos planos cria uma espiral de custos. Isso porque há separação: de quem se responsabiliza pelos cuidados (profissionais de saúde, clínicas e hospitais) e de quem remunera os serviços médicos (operadoras), o que impõe despesas administrativas e judicialização. É diferente dos sistemas universais, em que as duas partes ficam sob responsabilidade do poder público.
É miragem supor que planos, sempre majorados acima dos índices gerais da economia, possam dar conta dos desafios da saúde. Um perfil de morbidade conformado por doenças transmissíveis e crônicas, violências e acidentes, exige conjugar prevenção e tratamento, com qualidade nas ações. Os planos pegam da doença para frente, são típicos os doentes que agravam, vão para emergências, voltam para casa medicados sem terem acompanhamento contínuo e personalizado.
Embora a remuneração das consultas seja menor no curto prazo, pessoas inadequadamente examinadas, diagnosticadas e monitoradas geram gastos catastróficos e tendem a viver menos e com pior qualidade. O cálculo resultante do “você adianta o pagamento, outro administra seu dinheiro”, como um cofre-porquinho, traz danos à saúde. No mundo do deixar morrer, a vida é triste e curta. Sistemas de saúde, quando solidários, permitem fazer viver.
*É professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Estadão Conteúdo
10:20:03