A Agência Espacial Europeia (ESA) está preparando uma missão para pesquisar cometas em uma nova classe de missões, a classe F. Qual o cometa vai ser estudado? Não sei. Ninguém sabe, o cometa ainda vai ser descoberto.
Confuso? Só parece, olha só.
A ideia da ESA é montar uma missão completa, desde o desenho da nave, até o seu lançamento em 8 anos. Daí vem a classe F, de rápida em inglês. A sonda, ou as sondas dependendo do caso, não devem passar de uma tonelada de massa, para aproveitar um lançamento já programado de outra missão. A sonda vai ser colocada em órbita da Terra, numa posição especial chamada “L2”, ou o segundo ponto Lagrangeano do sistema Terra-Sol.
O ponto L2 fica em oposição ao Sol, ou “atrás” da Terra se você estiver na posição do Sol olhando para o nosso planeta. Esse ponto está a 1,5 milhões de km da Terra, umas 5 vezes a distância Terra-Lua, e é especial porque nele as forças gravitacionais do Sol e da Terra e a força centrípeta da órbita se equilibram. Assim, um corpo colocado nesse ponto tende a permanecer estável e se for preciso removê-lo de lá não será preciso grandes somas de energia. Uma vez lançada, a sonda será estacionada no ponto L2 à espera de um cometa para chamar de seu.
E aí que a coisa tem ares de ficção científica.
A ideia por trás do projeto é usar o interceptador de cometas em um cometa primitivo, um que nunca tenha passado pelo Sistema Solar ainda. Esses cometas são originários da Nuvem de Oort, por exemplo, e fazem apenas uma passagem pelas proximidades do Sol. São os chamados cometas de longo período, bem mais longos que 200 anos.
ESA tem um bom histórico de missões cometárias, como a sonda Giotto que visitou o cometa Halley em 1986 e a inesquecível Rosetta que orbitou o cometa Churiumov-Gerasimenko por mais de 1 ano lançando o módulo de pouso Philae. Nestes dois casos os cometas são de curto período, o Halley com uns 76 anos e o Chury tem 6,5 anos de período. Isso significa que eles já passaram incontáveis vezes pelas proximidades do Sol, o que altera as características originais do material cometário, por meio da ação do vento solar e principalmente pela ação dos raios ultravioleta.
Um cometa primitivo, desses advindos da Nuvem de Oort, vai passar pelo Sistema Solar interior pela primeira vez e o material em seu núcleo é praticamente o mesmo desde sua formação, lá nos primórdios do Sistema Solar há 5 bilhões de anos. O alvo da missão da ESA, então, nem foi descoberto ainda. Cometas dessa categoria são descobertos de vez em quando, mas por causa da sua origem, passam uma única vez pelo Sistema Solar em milênios. Na maioria dos casos até acabam mergulhando no Sol e evaporam.
G1
09:20:14